quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Antes de Julgar, Tente Entender




Hoje eu quero falar de algo sério.

Conheço muitas pessoas que não conseguem entender a depressão. Nunca tiveram e julgam, atiram pedras como se estar em depressão fosse uma opção. Ou mesmo, como se ela se tratasse apenas de um momento de tristeza em que o "portador" faz um drama maior do que o necessário. Eu gostaria de tentar ilustrar um pouco isto, acho que quem já teve ou tem, vai concordar comigo. Vou fazer uma analogia clássica com um poço. Vamos falar de um personagem fictício, Patrícia.




Imagine aquele poço igual aos de filmes, feito com pedras, com um suporte de madeira e uma roldana com uma corda com uma ponta bem amarrada e enrolada, e a outra ponta presa a um balde. Este poço faz parte da vida de Patrícia. Ela é jovem, e quem olha de fora, diz que ela tem de tudo para ser feliz e bem sucedida. Ela até via isto, até que, em algum momento, um acontecimento abalou Patrícia e, desnorteada, ela acabou caindo dentro do poço e se agarrando, por reflexo, na corda com o balde.
Não parecia difícil sair dali pois não havia caído tão fundo, a roldana parecia estar presa, pois não descia com seu peso. Sozinha, ela tentou subir pela corda, e enquanto fazia força para subir, a roldana deu uma destravada e desenrolava a corda quanto mais ela tentasse subir. Ela pensou em agarrar nas pedras da parede do poço para subir, então sacudiu-se até encostar na parede mas ele era antigo e acumulou lodo que o deixou escorregadio, e com esta sacudida, a engrenagem destravou mais um pouco.
  Ela parou e olhou em volta, reparou que não havia caído tanto, mas o poço parecia ser bastante fundo pois não enxergava nada lá embaixo, sequer sabia se havia água. Pensou em gritar e pedir ajuda, mas sentiu vergonha porque as pessoas lhe perguntariam como ela havia caído ali e nem ela entendia muito bem. O tempo foi passando e ali, e ela resolveu tentar subir outra vez, mesmo que não fosse adiantar, só para tentar, neste momento a roldana destravou por completo, ela se agarrou mais ainda à corda, torcendo para que estivesse bem presa. Enquanto caía, pensava em sua família, seus amigos, pensava no quanto queria sair dali. Até que a queda parou bruscamente fazendo com que quase se soltasse. Ela notou que não havia encontrado água ainda, não sabia o quão mais profundo poderia cair. Devido ao impacto, a corda começou a desfiar em determinado ponto, mas ela ainda não havia percebido isto. 
Patrícia se encontrava quase no fundo do poço, agarrada a uma corda que arrebentaria a qualquer momento. Olhava para baixo e não enxergava nada, olhava para o alto e via um ponto de luz bem pequeno la em cima. Durante a queda, havia batido contra a parede algumas vezes. Encontrava-se fraca, machucada, triste e com medo. Gritava muito e conseguia ouvir a própria voz ecoando alto, mas sentia que ninguém a escutava.
Quanto mais o tempo passava, mais pensava em desistir, mais pensava que as outras pessoas não se importaria e menos se importava com o que as outras pessoas sentiriam. De repente a corda cedeu bastante e ficou por um fio. Ela sentiu que se moveu, chegou a ter esperança que alguém a havia ouvido e mexeu na corda, mas foi ilusão. Sentia que o fim estava perto, sentia que logo iria romper o único vínculo que a mantinha presa ao mundo exterior. Não sabia se queria ou não, estava dominada pela confusão. Queria que tudo acabasse logo.

Bem, eu termino minha história por aqui e agora vou tentar explicar um pouco. Como já havia dito, o poço é a depressão, lembrando que depressão não é um lugar em que queremos estar, não é um lugar que reconhecemos que estamos de forma tão fácil. É uma doença que pode levar à morte e que é tratada com remédios e as terapias servem como aditivo para supervisão e controle do estado do paciente ou simplesmente como tratamento isolado.

Por ser algo dificil de reconhecer, quem está no estágio inicial acha que é uma tristeza passageira, um problema que logo será resolvido, uma fase. E, por isso, não acha necessário pedir ajuda. Ele não sabe que está doente e que seria muito mais fácil se já tivesse ajuda. No geral, as tentativas de se libertar sozinho acabam sendo vãs, e ele termina por cair ainda mais. Quanto mais tempo passa, mais ele se afunda na depressão e perde força para lutar sozinho. Algumas vezes, passa um bom tempo sem perceber toda a complexidade e sequer aceita que pode estar doente. Sem notar, acontece exatamente como na história, os vínculos que o mantém preso à vida vão se desmanchando, ele começa a não se importar com coisas normais da vida como comer, beber, tomar banho, escovar dentes. Está preso num lugar que é só ele e suas lembranças. Um lugar escuro que em nada lembra o mundo físico. E, como se uma força maior quisesse isso, ele se isola mais e mais. Quanto mais fundo ele está, menos ele se importa. E quando ele se cansa de viver daquele jeito desprezível é quando ele deixa de se importar com qualquer outra pessoa. A desistência não é por covardia, é por cansaço.

Quem gostaria de uma vida assim? Alguns depressivos conseguem levar por bastante tempo, outros são mais fracos para aguentar tanta pressão. A cabeça do depressivo dá um nó. E tudo o que ele ouve em volta é que é besteira, que ele é covarde e cada vez ouve mais coisas que o depreciam ainda mais e fazem seu estado piorar. Você, que não tem e nunca teve, pare de julgar! Você não precisa entender como o seu amigo, familiar ou conhecido chegou nesta situação. Você não critica a pessoa que tem câncer mas critica a que tem depressão? As duas são doenças e as duas precisam de tratamento. Muitas vezes, os tratamentos e cuidados são para o resto da vida. E se você acha que nunca aconteceu e nunca vai acontecer com você, se você acha que nunca chegará a tentar ou dar fim na própria vida, porque vocÊ é uma pessoa superanimada, super de alto-astral, enfim, e que se chegasse a cair neste pocinho, iria perceber e pedir logo ajuda, deixa eu te contar um segredo, espero que você nunca passe sequer perto deste pocinho, mas se estiver nele, eu duvido que o seu orgulho, o seu egoísmo e seu egocentrismo te permitam pedir ajuda ou sair sozinho. Eu duvido sequer que será tão fácil perceber quanto parece, por quem está de fora.

Então, agora que nada aconteceu e que, espero, nada aconteça com você, se não conseguir doar palavras de gentileza, de força ou apoio, se não tiver paciência para lidar com um depressivo nem de ficar ouvindo, não o deprima, pare de o acusar, ajude-o calando-se. Se não é para ajudar o depressivo a sair de dentro do próprio mundo em que se afogou, não o afogue mais. Tenha consciência.

Nota: Me desculpe se eu fui rude ou exagerada em alguma coisa, mas certos comentários que eu ouço por aí, me indignam demais. Não é uma questão de estar se fazendo de vítima, é uma tentativa de fazer estes julgamentos pararem ou diminuírem.

~♥ ŦคЪเ єммєяเcђ ♥~